terça-feira, 14 de setembro de 2010

Eliezer Setton é "capa de revista"

Uma revista com cara do Nordeste já circula entre nós!

A Revista OUSH!Brasil nasce com a cara do Nordeste e com o nome já na boca do seu povo, proclama Márcio Mrotzeck, publisher do novo Canal de Mídia "que vem para somar, para contribuir com espaço reservado para os muitos valores dessa terra".
Em suas edição de estreia, Eliezer Setton aparece na reportagem de capa, em entrevista reveladora. O artista alagoano faz um retropecto de sua carreira e, bem a seu jeito, traz o "fio da meada" até os dias de hoje.
São seis páginas de conversa, onde Eliezer Setton se mostra inteiro, através da sua música: "a que ele faz, a que ele canta e a que ele pesquisa para aprender sobre suas histórias e seus autores".
13 de setembro fora o dia escolhido por Márcio e Lílian Mrotzeck, publisher e diretora executiva da revista, para o lançamento da Oush!Brasil. O número primeiro fora entregue, com festa, aos alagoanos que compareceram ao espaço "Le Caprice", no bairro do Farol.
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(Clique em "Mais informações" para ler a entrevista na íntegra)
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Entrevista - por Márcio Mrotzeck
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Em sua edição de estreia, a OUSH! escalou a Cultura para sua matéria de capa. A Música foi o segmento privilegiado e Eliezer Setton foi o artista escolhido pela abrangência e diversidade temática de sua obra.

Procurado para uma entrevista e consultado sobre o seu interesse em ser “capa de revista”, ele quis saber o porquê da escolha do seu nome, principalmente quando soube que o editor geral da publicação não era seu conterrâneo e fazia pouco tempo que estava morando em Maceió.

Tomando a palavra, bem a seu jeito, ele tratou de descobrir o que sabíamos sobre ele que justificasse o convite que lhe fazíamos e, a partir daí, o papo rolou farta e descontraidamente, tal o entusiasmo com que ele fala de seus múltiplos projetos. Foi só deixar o gravador ligado e fazer alguns apontamentos. O resto foi com ele mesmo. E haja assunto sobre os mais variados temas e áreas de atuação, mas tudo passando pelo fio condutor da música. A música que ele faz, a que ele canta e a que ele pesquisa pra aprender sobre suas histórias e seus autores.

O que mostraremos a seguir é o panorama de uma carreira que vem se consolidando, gradual e simultaneamente, em Alagoas e no Brasil.

OUSH! Diante da multiplicidade de interesses que se constata em sua trajetória artística, qual o seu foco neste momento?

ES – Divulgação é a palavra de ordem. Posso dizer que até agora eu produzi bastante, mas não divulguei nada. Claro que estou radicalizando. Falando numa linguagem de guerra (e o mercado é um campo de batalha), estou concentrando minha artilharia na divulgação. É como quando um artesão que trabalha em casa, e tem sua clientela no boca a boca, resolve sair pra ir à luta e expor seus trabalhos nas feiras, praças etc., assumindo todos os elos da cadeia produtiva.

OUSH! Valendo-me de sua linguagem de guerra, como você planeja atacar o seu alvo?

ES – Reportando-me ao momento em que me descobri compositor, eu apostava que seria a minha música na voz de um artista de projeção nacional, o passaporte para minha carreira e para o sucesso. Assim, simples e inevitavelmente como causa e efeito. E olhe que eu, de cara, firmei parceria, na condição de letrista, com Oswaldinho do Acordeon que eu conhecera num “Pixinguinha”, aqui em Maceió, no final dos anos 70.

OUSH! Eita! Foi bater longe no túnel do tempo.

ES – Fiz essa digressão retroativa pra mostrar que o caminho era esse mesmo. Eu só não imaginava o tempo que ia levar o processo. Através do Oswaldinho eu cheguei aos bastidores do primeiro time do cenário nacional e pude constatar que o bicho era maior do que eu pintava. E foi numa parceria nossa que eu vi pela primeira vez o meu nome num disco do tamanho do Brasil. O LP/K-7/CD chamava-se “Encanto”, a música “Na hora H”, a artista Elba Ramalho e o ano 1992. Exatos 15 anos depois da minha primeira música gravada em 1977, estava eu debutando na música, em rede nacional.

OUSH! Chegou mais perto, mas ainda estamos 18 anos longe dos dias de hoje.

ES – É uma maioridade! Mas a partir dali as coisas tomaram impulso e eu fui sentando praça no forró. Em 1994 – Zinho, Jorge de Altinho e Canta Nordeste; 1995 – Zinho, Jorge e Canta Nordeste, de novo, Marinês e Mastruz com Leite (Cabeça com Bóbi); 1996 – Dominguinhos, Waldonys, Novinho da Paraíba, Os três do Nordeste, Zinho e Jorge, outra vez; e eu mesmo assumindo a carreira de forrozeiro com “Cio do Grão”, meu disco de estreia.

OUSH! Oba! Nasce uma estrela?

ES – Vá lá que seja! Só que aí o coco muda. Tudo muda. Ampliam-se horizontes, compromissos e responsabilidades. Deixo de priorizar a colocação de minhas músicas nos discos dos outros e passo a pensar mais na minha carreira, pero sin perder la ternura . Mas continuo a ser gravado pelos “colegas”. Leci Brandão, Alcymar Monteiro, Santanna, Brucelose e outros artistas/bandas prestigiam meu trabalho de compositor, enquanto minha carreira segue seu rumo e eu tento aprender o “caminho das pedras”.

OUSH! Já aprendeu o caminho das pedras? Como está lidando com as pedras do caminho?

ES – É um aprendizado constante, mas a conjunção astral proporcionada por uma sequência de acontecimentos, uns mais e outros menos recentes, fundiu a diversidade que me caracteriza num amálgama e me colocou diante de uma encruzilhada de única via: é seguir ou seguir; é fazer ou fazer; é abraçar ou abraçar a carreira em tempo integral, aproveitando as oportunidades que se oferecem, decifrando as que não se revelam e inventando as que se prestem a causa maior de inserir-me efetivamente no mercado.

OUSH! Que acontecimentos foram esses que determinaram sua postura atual diante da carreira?

ES – O Hino de Alagoas é o marco zero dessa história. A partir dele, o público começou a me ver como o cara que canta Alagoas. O melhor é que ele nasceu junto com “Não há quem não morra de amores pelo meu lugar”, música onde eu retrato uma iconografia alagoana bem abrangente. Isso me levou a participar do “Alagoas de Corpo e Alma”, projeto do governo que viajava pelo Brasil divulgando o Estado, onde eu entrava, depois do clipe de abertura, atacando de one man show em apresentações cujos roteiros eu escrevia a partir das pesquisas que me levavam a coisas que relacionassem Alagoas ao Estado que visitávamos.

OUSH! Eis que surge um roteirista?

ES – E, de quebra, um pesquisador que tem me abastecido com os conhecimentos gerais que ilustram minhas performances musiconversadas.

OUSH! E sua relação com os hinos?

ES – Depois de ter me apropriado do Hino de Alagoas, fui convidado a aprender o Hino Nacional. Isso me colocou nos momentos cívicos das solenidades e eventos. Dois desses momentos foram marcantes pela amplitude e repercussão: o Hino de Alagoas que eu cantei no jogo CSA 2X1 Vasco e o Hino Nacional no jogo Brasil 0X0 Colômbia, pelas eliminatórias da Copa de 2006.

Também canto o Hino de Maceió, o de Santana do Ipanema e o de Chã Preta, tendo já gravado os três. Já cantei o de Penedo e o de Arapiraca, mas não os gravei ainda. Num evento ítalo-brasileiro, cantei o da Itália.

Mas o fruto maior do meu envolvimento com os hinos é o CD “Brasil – Hinos à paisana”, em fase de lançamento, onde eu canto os dez mais representativos hinos do cancioneiro cívico brasileiro.

OUSH! Sua participação cívica nos eventos esportivos foi o que o levou a fazer música pros times de futebol daqui?

ES – A priori não, mas depois deu uma boa liga. Eu já gostava de futebol e lembro-me de ter pensado fazer música pro meu CSA. O danado é que, atendendo a uma sugestão do radialista Antônio Guimarães, fiz primeiro uma música pro nosso maior adversário, o CRB, pra só depois fazer a primeira das três que fiz pro poderoso AZULÃO. Em seguida, vieram a do ASA e a do Coruripe. O fato de ter feito música para outros times além do meu, me permite transitar em todas as torcidas, principalmente porque as músicas foram de gestação espontânea e as respectivas gravações bancadas por mim. Outra coisa importante nessa história é que quando eu levanto a bandeira de Alagoas posso agregar até torcidas rivais, mesmo sendo azulino confesso.

OUSH! Mesmo com tantas e tão diversificadas investidas bem sucedidas, você diz que agora é que vai buscar seu espaço nacional. O que faltou pra que isso acontecesse antes ou desde sempre?

ES – Nada. Não faltou nada. Cada momento foi vivido e desenvolvido nas condições que se apresentavam. Intuição pura e certeza que queria o que buscava, sempre achando que encontraria o sucesso quando quebrasse a próxima esquina. Claro que a ideia que eu fazia de sucesso era fama e fortuna. Mas como diz o cearense Falcão, isso é tudo, mas não é 100%. Ou vice-versa. Hoje, posso dizer que sucesso é o aprendizado acumulado, ao longo dos anos e dos trabalhos realizados, que compõe minha bagagem e me permite pensar grande e voar alto com os pés no chão. Se é que isso é possível. (risos)

OUSH! Quando você fala de trabalhos realizados se refere a CDs e shows. Qual a importância de cada um?

ES – Os shows são decorrência dos CDs e nos dão o “palco” que é o contato direto com o público. É assim que testamos o nosso produto e a receptividade à nossa performance. Os CDs são o registro das nossas tentativas de atingir um milhão de cópias. (risos) Como dizia Setton Neto, meu pai, o CD fica para posteridade.

OUSH! Quantas “tentativas de atingir um milhão de cópias” você já fez?

ES – Oito, até agora. Cio do Grão (1996); Das coisas da minha terra (1998); Ventos do Nordeste (2000); Oração do Forró (2003); O Carnaval Alagoano de Eliezer Setton (2004); Amores do meu Forró (2005); Brasil – Hinos à paisana (2009); Alagoaníssimo (2010).

Não atingi ainda um milhão de cópias, mas me orgulho de dizer que sou recordista em “não vendagem” de CD. Pelo menos uma vez por dia alguém me pergunta: “Onde a gente pode comprar seus discos?” Aí eu esfarrapo uma desculpa: “Logo estarei disponibilizando-os e divulgarei o local.”

Meus problemas se acabaram! E os do meu público também. Meus discos estão à venda no Museu Théo Brandão, na praia da Avenida. Claro que isso só vale pra quem estiver em Maceió. Para os de fora e pros comodistas, vale acessar settoneliezer.blogspot.com e pleitear um atendimento personalizado.

OUSH! Eliezer, se tiver alguma coisa que você gostaria de acrescentar, fale agora ou cale-se para sempre! (risos)
ES – Aí eu vi vantagem! (risos) Se você não levanta essa bola, ia parecer um show onde o artista guarda as músicas mais esperadas pra cantar no bis, só que o público levanta e vai embora sem perguntar: Por que parou? Parou por quê?
Então, vamos às boas novas (algumas, não tão novas, mas oportunas) que me deixam todo ancho:
  • Em 2009, “Não há quem não morra de amores pelo meu lugar” foi a página de Alagoas na Agenda da CEF, com distribuição nacional;
  • Também em 2009, Elba Ramalho voltou a gravar música minha. Desta vez foi “D’estar”, no disco “Balaio de Amor” pela Biscoito Fino;
  • Além do CD dos hinos, que eu já falei e que tem um apelo nacional, estou lançando também o “Alagoaníssimo”, que é quase uma coletânea, não fosse por uma música inédita e pela inclusão dos hinos de Alagoas e de Maceió, que até então não tinham residência fixa;
  • E pra fechar a conta e passar a régua, tem música minha e de Targino Gondim no disco novo de Gilberto Gil. O disco é “Fé na Festa” e a música é “Maria Minha”.

Acho que não esqueci nada. Qualquer coisa, eu telefono ou mando email.

OUSH! Só mais uma pergunta: resumindo a ópera, como você define Eliezer Setton?

ES – Prefiro resumir o forró. (risos) Eliezer Setton, o Déu, para os de casa e os da infância, o filho do Setton, para os mais velhos, o alagoaníssimo, para os conterrâneos mais arraigados, é cantor, compositor, economista e comendador.

Um forrozeiro cantador de hinos.


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